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CYBERJOURNAL FOR PENTECOSTAL-CHARISMATIC RESEARCH #28

 

 

 

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO CRISTIANISMO E SUA MORDOMIA CRISTÃ PERANTE O ESGOTAMENTO DOS RECURSOS PLANETÁRIOS
 
THE SOCIAL RESPONSIBILITY OF CHRISTIANITY AND ITS CHRISTIAN STEWARDSHIP BEFORE THE EXHAUSTION OF PLANETARY RESOURCES

 

By Dr. Ângela Maringoli[i]

 

Resumo. Esse artigo quer dialogar com a visão holística da mordomia cristã e a sua reponsabilidade comportamental frente à preservação do meio ambiente no que se refere ao esgotamento dos recursos planetários. O artigo tem como pressupostos que a mordomia cristã é um ministério a ser exercido para com todo o planeta. Como comparativo, a pesquisa usará como parâmetros as exigências da Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS[ii]). A Agenda 2030 do Desenvolvimento Sustentável foi elaborada pelas Organizações das Nações Unidas, (ONU), e o seu desenvolvimento foi supervisionado pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil (GTSC A2030). O grupo do desenvolvimento das ODS nasceu em um dos encontros que ocorreram em 2015 entre as organizações que acompanhavam o desenvolvimento da Agenda 2030 na Conferência da ONU. O grupo é composto por cerca de quarenta organizações não governamentais, movimentos sociais, fóruns e fundações brasileiras, que atuam na supervisão e monitoramento da implantação e fiscalização da agenda. O trabalho do GTSC da Agenda 2030 inclui princípios que norteiam sua missão em defesa dos direitos de um desenvolvimento sustentável.  Nesse sentido, o Cristianismo pode colaborar com a Agenda 2030 promovendo ações para a superação de uma Cristandade indiferente ao cuidado com a terra. Nesse estudo queremos construir um dialogo entre a responsabilidade da mordomia cristã da criação e o seu comportamento frente à preservação do meio ambiente e ao esgotamento dos recursos planetários considerando todos os desafios contemporâneos para a mordomia cristã.

Consideramos que a mordomia cristã é planetária foi dada aos seres humanos pelo próprio Criador.

Palavras-Chave: Mordomia Cristã; Cristianismo; Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis; Agenda 2030.


Abstract. This article seeks to dialogue with the holistic vision of Christian stewardship, and its behavioral responsibility towards the preservation of the environment as it relates to the exhaustion of planetary resources. The article assumes that Christian stewardship is a ministry to be exercised toward the entire planet. For comparison, the research will use as parameters the requirements of Agenda 2030 and the Sustainable Development Objectives (ODS). The Sustainable Development Agenda 2030 was developed by United Nations Organizations (UN), and its development was overseen by the Civil Society Working Group (GTSC A2030). The ODS development group was born in one of the meetings that took place in 2015, among the organizations that accompanied the development of Agenda 2030 at the UN Conference, the group is composed of about forty non-governmental organizations, social movements, forums and foundations in Brazil, who supervise and monitor the implementation and monitoring the agenda. The GTSC's work on Agenda 2030 includes principles that guide its mission to uphold the rights of sustainable development. In this sense, Christianity can collaborate with Agenda 2030 promoting actions for overcoming a Christianity indifferent to caring for the land.

Keywords: Christian Stewardship; Christianity; Sustainable Development Goals; Agenda 2030.

                                                                                                                  

INTRODUÇÃO

Segundo a tradição judaica cristã, acredita-se que em um primeiro momento Deus organizou o caos que imperava no cosmos, e depois criou o ser humano a quem deu a responsabilidade de cuidar do planeta. Passados milênios, o ser humano mergulha o Planeta o caos. Uma volta ao passado.

Felizmente, mesmo diante de tantas catástrofes ambientais a natureza retoma seu equilíbrio inicial através de mecanismos naturais de autopreservação. É da biodiversidade planetária que o sustento da vida e sobrevivência acontecem, mas, para alguns a perda da biodiversidade não é vista como um problema.

Por séculos, a história tem mostrado que as nações do hemisfério norte são mais poderosas em suas forças exploratórias e extrativistas. A Geopolítica que estuda melhor essas questões mostra quando aponta que tais nações possuem governos militarmente estruturados e políticas econômicas opressoras e predatórias características que fortalecem ações e guerras. Com tais ações essas nações opressoras que se apoderaram de povos e dos seus recursos ambientais. Esse fenômeno é antigo e existe desde os primórdios das colonizações quando por conta das invasões territoriais. O interesse maior, que domina há séculos, se concentra na exploração da colônia pelo imperialismo.

Max Weber, sociólogo e economista alemão (1864-1920), um dos precursores da sociologia econômica e que viveu durante a consolidação do Estado alemão, escreveu sua obra a Ética Protestante e o Espirito do Capitalismo na qual deixa claro que a sociedade é o resultado da interlocução dos seus atores e sujeitos. Para Weber a racionalização, intelectualização e o desencantamento do mundo tem a ver com o consumo de uma sociedade que tem a religião cristã protestante como responsável pelo nascimento do que conhecemos como capitalismo moderno. Para Weber, o protestantismo, em especifico o calvinista, (XIX e XX), incentivou o crescimento do capitalismo industrial dos países europeus de confissão protestante. Para ele, a leitura sobre benção e como sinônimos de riqueza que os protestantes de sua época fizeram, deu início ao consumo exacerbado que vivemos em nossos dias atuais. Nem sempre a possessão das terras é manifesta em armas, por vezes ela é feita  através da imposição da cultura e religião do opressor à nação dominada e devido a isso muitos países se tornam culturalmente escravizados.

Desafios contemporâneos para a mordomia cristã

John Stott, dialogando sobre a perspectiva bíblica e o meio ambiente, traz uma pergunta que é básica, com uma resposta que explica com muita clareza: “A quem a Terra pertence? E Stott comenta que a reposta é referida no salmo 24, 1 “do Senhor é a Terra e tudo que nela existe” - ou seja, do próprio Deus como criador e proprietário. Essa a referência é parcial, uma vez que no salmo 115.16 conclui que “os mais altos céus pertencem ao Senhor, mas a Terra Ele confiou aos homens”. (STOTT, 2017).

 Stott quer dizer que o ser humano tem a posse da Terra por outorga Divina, acompanhada da responsabilidade de zelar por ela. É, por assim dizer, mordomo da criação. Mordomia cristã é o modo pelo qual a humanidade reflete o seu Criador na responsabilidade de administrar a criação. Entretanto, as catástrofes ambientais crescem a cada dia, sendo enormes os desafios em relação a mordomia que permeiam o cristianismo do século XXI.   Wesley opinou que Deus outorga ao ser humano a capacidade de ser um “canal de comunicação entre o Criador e o restante da criação”, na medida em que a benevolência de Deus é refletida nas ações humanas em relação à criação e que esse papel de mordomo e cuidador da criação pressupõe uma contínua fidelidade à ordem do Criador de preservar e proteger a criação como um todo.[iii]

 

A Agenda 2030, as ODS e a participação do Brasil no período 2015 - 2020.

O Brasil esteve presente durante a elaboração dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Os compromissos assumidos pelo Brasil foram o de eliminar a pobreza existente por conta de todas as diferenças sociais existentes no país (1), erradicar a fome (2), Saúde de qualidade (3), a educação de qualidade (4),igualdade de gênero (5),água potável  e saneamento (6), energias renováveis e acessíveis (7),trabalho digno e crescimento econômico (8), indústria, inovação e infraestruturas (9) reduzir as desigualdades (10), cidades e comunidades sustentáveis (11), produção e consumo sustentáveis (12), ação climática (13), proteção das áreas marinhas (14), proteção a vida terrestre (15),paz, justiça e instituições eficazes (16),  parcerias para a implementação dos objetivos (17).

No tocante a implantação da Agenda 2030, o governo brasileiro apesar das burocracias internas e morosidade nas decisões ministeriais, tem discutido meios para cumprir com os compromissos assumidos frente aos desafios das ODS. Até agora, o Brasil apresentou poucas ações concretas que cooperem na transformação da sociedade brasileira. Talvez porque para a implantação das ODS. Urgente é que os governos encontrem parceiros no mundo empresarial e no terceiro setor para a implantação das ODS.  Necessário para tanto seria adotar uma metodologia com as empresas parceiras que priorize a mitigação dos da exploração e extrativismo dos recursos naturais da terra e do meio ambiente. Espera-se que no universo coorporativo a implantação dos objetivos das ODS produza um modelo de negocio onde a transparência nas negociações e a responsabilidade da entrega dos produtos sejam mais eficientes e com níveis mais elevados de produtividade e qualificação do trabalhador.

A Agenda 2030, a Diversidade e a Solidariedade.

O ecossistema e seu habitat vêm sofrendo com a baixa das espécies vegetais e animais. Entre as muitas causas para que isso ocorra encontramos as alterações climáticas no Planeta, consequência da interferência humana e os seus variados modos de poluição do ar, das águas dos rios e águas subterrâneas, das nascentes, lagos e mares, dos córregos e esgotos residuais a céu aberto, não tratados corretamente; sem contar a desertificação das matas ciliares. A desertificação é o fenômeno que ocorre como um dos resultados do desmatamento aleatório ou desmatamento não planejado. E vale citar a caça predatória de animais raros e a comercialização clandestina das suas peles e couro. Finalizando, mas não menos prejudicial que os anteriores, temos o extrativismo vegetal e mineral, enquadrado no setor primário da economia, ator coadjuvante das últimas catástrofes ambientais.

O Brasil é um dos principais produtores e exportadores mundiais de minérios, entre esses destacam-se ferro, bauxita, cassiterita, ouro, cobre, cromo, alumínio, estanho, níquel, manganês, zinco, potássio, nióbio, entre outros. Empresas multinacionais tais como Alcam, Alcoa, Samarco, BHP Biliton e Vale se destacam.

Neste cenário temos como exemplos os casos recentes de Mariana (2015), maior desastre ambiental na área da mineração que devastou a bacia hidrografia do Rio Doce dizimou com sua lama toxica o distrito de Rodrigues em Mariana, Minas Gerais, e Brumadinhas (2019) e por ultimo e nem por isso de menor escala a enorme queimada no Cerrado brasileiro, mata nativa no Estado do Mato Grosso do sul, região central do Brasil onde encontramos uma reserva natural, o Pantanal,[iv] (2020), que por meses sequenciais sofreu os danos de um incêndio destruidor mais de 4.0 milhões de hectares de bioma destruídos, onde animais de espécies[v] nativas morreram e pessoas desabrigadas como resultado de políticas predatórias descomprometidas com o meio ambiente, onde o capital leva as últimas consequências a sua ganância de um Governo Federal dominado pela corrupção sistêmica, que há anos vem se arrastando no Brasil. Se não fosse tudo suficiente à pandemia mundial do Covid-19 assolava a nação.

 

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A verdade é que, desde a privatização da Vale durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, passando pelos 18 anos de Governo do PT, não existe fiscalização para essas empresas, portanto as mesmas nem ao mesmo se sentem responsáveis pelo desastre, mas se sentem tão vítimas quantos os moradores dos municípios. Apesar de haver uma luta na conservação da Amazônia e na economia sustentável que nos últimos anos trabalha usando o conhecimento ancestral dos índios e caboclos, vidas das pessoas e animais que lá habitam infelizmente, todos os anos nossas florestas sofrem com o desmatamento causado pela ação do homem e pelos incêndios.

Como consequência da impunidade do desastre de Mariana temos o ocorrido em Brumadinho. O que ocorreu é que, sob o governo de Michel Temer, (2018), na gestão do ministro do Meio Ambiente Sarney Filho, a mineradora Vale continuou protegida e ações eficazes, mas que não foram executadas e não houve manutenção adequada por parte da Vale do Rio Doce. Para manterem-se limpas as águas do Rio Doce, estima-se um orçamento de mais de 3 bilhões de reais, mas o Governo Federal e os Estaduais envolvidos estão quebrados.  Além disso, as multas aplicadas pelo IBAMA pela Secretaria do Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável à mineradora está sendo contestadas. (350 milhões de reais mais 250 milhões). Sabe-se que a Samarco pagou 45 milhões. 

Para o século XXI a água é imprescindível para a vida no Planeta, ela é a própria vida, entretanto, a cada ano, por conta dos mananciais que estão a secar, ela vem se rareando no planeta.

 

A Teologia Pastoral e o Meio Ambiente

Na década de 70 surgiram os primeiros movimentos ecológicos. Em 1971, o Papa Paulo VI manifestou-se, em sua encíclica papal referindo-se à problemática ecológica, apresentando-a como uma crise que é consequência da atividade descontrolada do ser humano sobre a natureza e menciona a possibilidade duma catástrofe ecológica sob o efeito da explosão da civilização industrial. Sucessor a ele, o Papa Francisco renova o interesse sobre este tema, destacando que o ser humano parece não se dar conta de outros significados do seu ambiente natural para além daqueles que servem, somente, para os fins de um uso ou consumo imediato, Deus confiou o mundo ao homem.  A própria vida humana é um dom, um presente, que deve ser protegido de várias formas de degradação[vi].

A Educação Ambiental por vezes é também entendida como Educação Política porque ela é partidária de ações transformadoras da realidade e da cidadania onde a sociedade está inserida, transformando-a em uma sociedade sustentável.

E para isso  esse estudo defende  que para os dias atuais a educação teológica cristã evangélica pode revisar os seus programas de ensino, nas disciplinas direta ou indiretamente relacionadas à Missiologia e outras, com a lógica dos saberes da educação ambiental, considerando os marcos teológicos da Missão Integral. Tal revisão redundaria no que estamos chamando de Teoambientologia.

Nesse sentido faz parte da Teoambientologia defender  que os aspectos históricos do debate sobre Educação Ambiental, e as políticas públicas nacionais, as normativas e diretrizes básicas legislativas que regem a Educação Ambiental poderiam ser ensinados e cumpridos como responsabilidade ambiental nas instituições de ensino teológico.

As mesmas são apresentadas, com as influências que na época, o desenvolvimento histórico do movimento ambientalista exerceu, inclusive para algumas organizações não governamentais cristãs.

O tipo de sociedade construída nos últimos 400 anos impede que se realize um desenvolvimento sustentável porque essa montou um modelo de desenvolvimento que pratica sistematicamente a pilhagem dos recursos da Terra e explora a força de trabalho

Em 2015, o Papa Francisco, em sua encíclica sobre o meio ambiente, documento dividido em seis capítulos que falam sobre a mudança climática, a dívida ecológica, a questão da água, a crise ecológica bem como as mudanças no estilo de vida, sugere que as pessoas e instituições reflitam sobre o cuidado com o meio ambiente:

Lanço um convite urgente a renovar o diálogo sobre a maneira como estamos construindo o futuro do planeta. Precisamos de um debate que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos nós[vii].

 

Frente à necessidade urgente de mudanças no comportamento da humanidade, entendemos que se todo o progresso científico, por mais extraordinário que possa ser, assim como as invenções técnicas e o desenvolvimento económico não estiverem unidos a um progresso social e moral, serão os futuros monstros devoradores do próprio ser humano.

James Jones ambientalista militante comenta o tema da criação à luz de passagens no Novo Testamento, perguntando qual será a vontade de Deus para a terra: “É de Sua vontade que mesma seja destruída por nós?” (Jones, 2008). As narrativas bíblicas não se limitam em falar da alma humana ou da proposta redentora e na salvação em Jesus Cristo e abordam temas que destacam que a salvação atingirá até as regiões celestiais e isso inclui os céus, o cosmo. (Cl 1,13-20). O livro de Isaías fala de uma profecia sobre novo céu e nova terra (Is 65,17-25 e Ap. 21,1-8). Esse é o conceito perfeito para a Teoambientologia: a redenção de todas as coisas. O Cristo ressurreto, cósmico, em sua nova natureza, redime todas as coisas em sua nova corporeidade: “Porque por Ele e para Ele foram criadas todas as coisas”.[viii].

Moltmann trabalha na Teologia da criação com a ideia de um Deus absoluto que, como o sujeito criador, controlava todas as coisas e tudo o que havia sido criado era Dele e somente Ele, o Cristo, tinha o direito de salvar e o poder para transformar. Inobstante, a partir do momento em que o mundo foi sendo secularizado, esse mesmo Criador foi sendo substituído cada vez mais pelo sistema.  Moltmann conclui que a escatologia da redenção é que Deus criou o mundo para o seu louvor e sua alegria.  O autor observa que questões relativas ao meio ambiente têm nos assolados em nossa consciência. Temos vivido uma grande crise ambiental ecológica causada pela fragmentação do homem moderno. Moltmann comenta que conforme exploramos as riquezas e forças vitais, a Terra geme com a violência e com a injustiça que temos praticado. E que ela aguarda por seu direito (Moltmann, 1993), um momento de desafio espiritual

 

As Organizações Cristãs Não Governamentais e o cuidado com Meio Ambiente e Criação

A ONG Eco peace é integrante da rede internacional Friends of the Earth. A entidade defende que o cuidado com o meio ambiente pode ser um caminho para promoção da paz, uma vez que os vizinhos hostis das variadas nações compartilham os mesmos recursos naturais escreveu o seguinte texto:

A crise ambiental levou todos os setores, inclusive o religioso a ficarem alerta. Em 1986, da Basílica de São Francisco de Assis, na Itália, saiu o documento, “A Declaração de Assis”, assinada por líderes religiosos do Budismo, Cristianismo, Hinduísmo, Islamismo e Judaísmo. O encontro dos líderes dos cinco maiores sistemas de crença foi proposto pelo príncipe Philip, duque de Edimburgo, então presidente do WWF Internacional, que nove anos depois fundaria a Aliança das Religiões e Conservação (ARC). A partir de então a ARC reuniu, além das declarações destas cinco crenças, outras sete. A adaptação dos ensinamentos religiosos para reavaliar a natureza e minimizar sua destruição pôde marcar uma nova fase no pensamento religioso – assim avaliou Thomas Berry, historiador das religiões e “eco teólogo” americano morto em 2009. Ele considerava necessária uma reavaliação abrangente das relações do ser humano com a Terra se quiséssemos que nossa espécie continuasse viável em um planeta cada vez mais degradado. Isso exigiria a adoção de visões de mundo diferentes das que capturaram a imaginação das sociedades contemporâneas industrializadas, que veem a natureza como um objeto a ser explorado. O desafio é descobrir como as diferentes tradições religiosas podem contribuir para essa discussão. [ix]

 

Alguns setores do cristianismo, a saber, as Organizações Não Governamentais (ONGs) cristãs, vivenciam em seus trabalhos de proteção ao meio ambiente, rompendo com esse tipo de paradigma da alienação escatológica cristã. Tais organizações vêm notoriamente executando sua responsabilidade e Missio Dei.

Há trinta anos nasceu no Algarve, sul de Portugal e com suas bases na Europa, América do Sul (Peru e Brasil), África e Canadá. A Rocha[x] é uma instituição cristã com sua sede internacional em Londres, na Inglaterra, onde trabalha em parceria como Associação Brasileira Universitária (ABU), com a Visão Mundial[xi] e também com várias Agencias missionárias como a JOCUM, - Jovens com uma Missão, que possui grande presença nos eventos direcionados a educação ambiental, ecologia e afins, bem como na Faculdade Latino Americana de Teologia Integral (FLAM) e na Faculdade Teológica Sul América (FTSLA), onde desenvolveu projetos pedagógicos na área de pós-graduação voltados para a Educação Ambiental.

A Rocha, instituição cristã, aderiu a Teologia da Missão Integral nos projetos missionários, ampliando a compreensão dos princípios cristãos ligados à gestão ambiental e aos valores do Reino. O propósito era despertar e capacitar pessoas oferecendo conhecimento sobre as questões ambientais gerando iniciativas sustentáveis e com perspectivas futuras eficazes no meio em que vivemos especialmente. A Rocha oferece às escolas e seminários teológicos cursos modulares adequados a realidade atual nos quais temas como: “Um Deus ecológico, Fundamentos da criação, natureza e o meio ambiente nas escrituras, movimento e história ambiental e outros” são apresentados para debates e discussões. Enquanto Instituição, A Rocha tem, em Peter Harris, seu fundador, e em Francis Schaeffer, o seu desenvolvimento teológico teórico-prático ambientalista. Peter Harris falou durante o I Fórum Missão Integral: Ecologia & Sociedade no Vale da Bênção, Araçariguama; ao ser entrevistado por Guilherme Carvalho comentou sobre a influência de Schaffer para os desenvolvimentos dos seus trabalhos ambientais. Reproduzo o diálogo.

Peter Harris, gente muito acessível. O fundador d' A Rocha não é biólogo, engenheiro, etc. - é teólogo! Eu[xii] e o Rodolfo conversamos com ele um pouquinho, e perguntamos sobre a influência de Schaeffer sobre a Rocha. Segundo as palavras de Harris, a influência teria sido "total", a partir do livro "Poluição e Morte do Homem". E, ainda, que A Rocha seria uma espécie de "L'Abri ecológica"! Isso é muito bom. Espero que, no futuro, o L'Abri Brasil[xiii] tenha muitos contatos enriquecedores com A Rocha Brasil[xiv].

 

As religiões panteístas, seu culto ao meio ambiente e a visão cristã de Schaeffer sobre esse assunto.

A consciência planetária e o cuidado com a terra é despertado em Schaeffer em uma de suas Conferências nas Bermudas no ano de 1968, onde foi convidado a conhecer o trabalho de ecólogo David B. Wingate[xv], pesquisador das aves marinhas conhecidas como Petrel, uma ave palmípede que se alimenta de peixes do oceano e que se encontravam em processo de extinção pelo alto índice de morte das aves  devido a contaminação das águas dos oceanos, que tem como consequência um decréscimo das ninhadas pela falta das aves fêmeas, tendo seu primeiro encontro com as questões ambientais e sendo impactado por elas, passando a focar a responsabilidade do ser humano enquanto mordomo do planeta terra em seus trabalhos, fundamento de sua teologia ambientalista. (Schaeffer, 1976). 

Ao citar um artigo[xvi] “As Raízes Históricas de Nossa Crise Ecológica”, Schaeffer destaca uma frase na qual Lynn White Junior, defensor de um cristianismo que preserve o meio ambiente, acusa os cristãos como os verdadeiros responsáveis pela agressão ao meio ambiente; “O cristianismo é culpado pelo crescimento da crise ecológica.” O autor explica que não vivemos mais em um mundo cristão, mas sim pós-cristão, em que a mentalidade cristã tem ensinado que o ser humano tem poder sobre a natureza, e, portanto, o homem tem subjugado a natureza e a criação de Deus até a destruição. Afirma, ainda, não haver solução para os problemas ecológicos, assim como também para os problemas sociais, se não houver uma mudança no pensamento do ser humano. É o mesmo dilema moral que aparece em quase todas as religiões monoteístas. Por conta dessa dualidade, a dominação do homem não poderia ser tomada como licença para abusar, esbanjar ou destruir o que foi criado por Deus. Os cristãos acreditam que a recusa do primeiro homem em viver de acordo com os pressupostos divinos trouxe desarmonia em sua relação com Deus e as outras criaturas.

Para White, “o que pensamos da ecologia esta intrinsecamente ligada ao que pensamos de nós mesmos e o que pensamos do nosso mundo, do mundo que nos rodeia e do futuro”.  Para White a religião não deve ser extremada da culpa, e nesse sentido, a ciência e a tecnologia atual estão matizadas por uma soberba e arrogância própria de um cristianismo ortodoxo que entende que a solução para os problemas ecológicos se centraliza nele. Para White a tecnologia não responderá ou solucionará esse dilema já que ela está permeada pela ideia do domínio e poder do ser humano em relação à natureza. Por fim questiona porque não voltamos a Francisco de Assis, que diante da ideia do poder ilimitado do homem tratou de criar uma relação de igualdade entre todas as criaturas inclusive com o ser humano. (Schaeffer, 1976).

Nesse sentido, temos outra religião condicionada à rejeição natural dos cristãos, centralizada não no antropocêntrico cristão, mas em uma linha de pensamento filosófico oriental que de uma maneira mais objetiva está apta a dialogar sobre os malefícios que atingem o planeta, o que nos meios cristãos é conhecido por panteísmo[xvii]. Esse movimento surgiu influenciado pelos muitos movimentos hippies, pensamento New Age, zen-budista dos anos 70 conhecidos como a “era de Aquárius” [xviii].

O panteísmo encontra em Means, um dos seus maiores defensores, que como sociólogo trava um esforço em equacionalizar a questão da ecologia, ele faz uso da religião panteísta[xix] na qual todos concordam com o diagnóstico de que o planeta está doente. Schaeffer reage a Means e a sua defesa do panteísmo como solução para a crise do meio ambiente, e elabora uma resposta cristã que envolva a criação e um plano piloto de restauração de tudo o que foi criado por Deus. O autor prevê que se não houver argumentos teológicos cristãos que defendam tais problemas, em um futuro próximo, na América, por influência da cultura oriental, o panteísmo será uma tendência apresentada como respostas aos problemas ecológicos, mas, nos livrarmos do cristianismo, definitivamente, alteraria a cultura tradicionalmente cristã (1976, p 19, 25).

Schaeffer conclui que para a sociologia caberia ver a luz da ética e não a questão religiosa, porque para Means, continua Schaeffer, a relação do homem com a natureza é um problema moral e não exatamente científica, e, portanto, o panteísmo como religião seria a resposta ideal para as soluções ambientais éticas e não religiosas. Means defende não ser um problema moral porque o desgaste da natureza é algo que acompanha a história e a cultura da humanidade. Ele acredita que o problema da natureza foi gerado pelo cristianismo, e acaba por ser reducionista na questão. Schaeffer reage dizendo que o problema é por demais social decorrente da má utilização do meio ambiente e da negligência dos seres humanos em relação à natureza e que Means é um sociólogo querendo usar a religião e a ciência com a finalidade para manipular os resultados do seu pensamento sociológico.

Schaeffer admite que os conceitos teológicos dos americanos calvinistas e deístas,  os quais consideram um Deus transcendente e separado da vida orgânica e da natureza, relacionando-se com ela por meio da revelação e que essa maneira expressiva de fé removeu o espírito da natureza, então, para o cristianismo não existe um conceito de “florestas sagradas” e por anos destroem-se e desmatam-se florestas em prol do desenvolvimento, acreditando que seria idolatria considerar ou atribuir “um espírito” às arvores e aos elementos da natureza, o que não implica em que tenha sua parte boa e sua parte má e como seria conviver em harmonia com a parte má da natureza que envolve as grandes catástrofes, furacões, vulcões, tsunamis, raios e trovões.

Para Schaeffer o panteísmo não responde a essas duas faces da natureza porque não concebe nenhum tipo de anomalia na natureza onde tudo é perfeito e harmonioso, entretanto, a natureza nem sempre é benévola em seu dualismo. (Schaeffer, 1976).

E fica evidente que o panteísmo não é a solução para os problemas ecológicos porque o panteísmo nivela o ser humano à igualdade de uma erva, ou a uma grama para o pasto, ao privilegiar a alimentação de animais como ratos e vacas em detrimento da fome humana, como a exemplo da fome e miserabilidade na Índia. Portanto para o autor, se o ocidente quiser solucionar problemas ecológicos através desse método seria reduzir o elemento humano de maneira pragmática, entretanto para Schaeffer um cristianismo empobrecido como o que se tem vivido, ou o que se viveu no período bizantino em que a única coisa importante era o celestial, tão pouco é a resposta, pois é um cristianismo sem uma ênfase especifica voltada para a natureza.  (Schaeffer, 1976).

Schaeffer[xx] comenta que “quando nós tivermos aprendido o significado da visão cristã da natureza, então poderá haver uma ecologia verdadeira; a beleza fluirá, a liberdade psicológica virá, e o mundo parará de ser transformado em um deserto. Porque é correto, baseado num sistema cristão completo - que é forte o bastante para resistir a tudo porque é verdadeiro - quando eu encaro o ranúnculo, eu digo: Criatura companheira, criatura companheira, eu não pisarei em você. Somos ambas as criaturas." (Schaffer,1976)

Schaeffer fala de um momento interessante da história do cristianismo que foi defendido Reforma Protestante. O autor afirma que através da fé na Bíblia e do que ela afirma como profissão de fé e da revelação de Deus com toda a sua criação e o cosmo, na reforma, tanto a natureza como o celestial estavam juntos e figurava nesse modelo de cristianismo uma resposta que incluía a relação do homem e da natureza um momento humanista, de alta expressividade na arte da pintura em que a natureza estava presente nas telas dos pintores. A graça e a natureza não estavam separadas, trazendo a ideia da unidade como base da revelação de Deus. Só um cristianismo genuíno terá essa resposta.

Um cristianismo que se fundamente em conceitos platônicos e dicotômicos, como o cristianismo ortodoxo, não terá resposta para os problemas da natureza, pois seu interesse se concentra nas coisas celestiais, somente na salvação e na glória do céu. Nesse tipo de cristianismo, mesmo que se use o termo evangélico há pouco ou nenhum prazer nas coisas do corpo e no uso racional do intelecto. Esse tipo de cristianismo não olha a natureza, ele olha os Alpes onde Deus habita e a cabeça não está nos problemas da terra. (Schaeffer, 1976)

 

Metaforicamente os humanos vêm o planeta como um armário fornecedor de suprimentos inesgotáveis. Entretanto, o mesmo se tornou refém do egoísmo e ganancia humanas geradas pelo capitalismo oriundos do viés das religiões antropocêntricas,[xxi] que exercem o seu “domínio” sobre a terra e os seres vivos. O antropocentrismo vê o ser humano, Adão, como a “máxima” da criação de Deus e a mulher, a Eva. como Eva[xxii] tem o cristianismo como parceiro e o homem como a imagem e semelhança de Deus, quem deu-lhe o domínio confiando-lhe todas as outras criaturas e o planeta. Tal leitura confere ao ser humano um comportamento danoso e destruidor que suga para si tudo o que estiver ao alcance como a “sangue - suga dá”. – “dá” que nunca fica satisfeita.

E, nesse mesmo viés Boff admite que seja imprescindível a comunhão entre os seres vivos de todas as espécies independente de qual seja o destino do ser humano. Tudo o que existe e coexiste tem que se relacionar. Ao reafirmar a interdependência entre os seres podemos entender que a ecologia enquanto ciência funcionaliza todas as hierarquias e nega “o direito” do mais forte, porque para ela os seres, por mais microscópios que sejam, possuem uma relativa autonomia e contam com ela.

Diferentemente do cristianismo e do panteísmo citados acima, existem religiões que tem em suas tradições religiosas o compromisso com a responsabilidade de cuidar da Terra e das criaturas vivas, Entre essas temos a Igreja Messiânica Mundial, fundada em 1935, por Mokiti Okada mentor responsável pela difusão de ideias percussoras em relação a época em que viveu. Para os messiânicos, as questões ambientais são cruciais para o próprio bem-estar da humanidade e para as gerações futuras. Fazem parte da agenda da comunidade, discussões atuais como as que envolvam o uso indevido dos agrotóxicos, transgenia de grãos e outras. Os messiânicos, valorizam a agricultura natural porque acreditam que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito para todos. Tanto é responsabilidade do poder público como da sociedade como um todo

Nesse sentido, entende-se que o conceito de ecologia pode ser considerado como uma ciência que  tem como  primícias  manter o ecossistema e a sua relação com os seres vivos e com o meio ambiente em equilíbrio. Entretanto, o conceito  nos dias atuais, é um tanto limitado,

 Indistintamente a isso, a ecologia tem um envolvimento socioeconômico com os sistemas intensivos de produção animal, como o confinamento na bovinocultura, atividade potencialmente impactante ao meio ambiente devido à alta produção de dejetos em ambientes restritos geograficamente, mas ela é sim afetada por fatores socioeconômicos como os dejetos desses animais provenientes de dietas com altos valores energéticos e proteicos, ricos em nutrientes que, se não tratados adequadamente e dispostos no meio ambiente sem precaução, podem constituir poluentes preocupantes em corpos d’água, solo e ar.

 

O desflorestamento e a morte das matas ciliares e nascentes dos rios e o agronegócio.

O Brasil, segundo as estatísticas, é o maior exportador global de soja transgênica. A safra (2019) colheu 122,2 milhões de toneladas de soja. A transgenia[xxiii]  é processo laboratorial de produção das sementes utilizados nos plantios. O uso indiscriminado de agrotóxicos de última geração é o responsável por gerações de espécies de insetos resistentes aos pesticidas de uso de larga escala. Tais excessos[xxiv] têm cooperado nas mudanças climáticas, na produção dos gases estufas que vem cooperando com o aceleramento do descongelamento das massas de gelo dos polos. O aumento da temperatura nesse último século atingiu a casa de um grau. Estudos científicos demonstram que inúmeras espécies animais e vegetais estão extintos após a utilização de tais implementos.

Recentemente em visita a região agropecuária no Mato Grosso Sul, região do Pantanal, pudemos conhecer a flora e fauna do Cerrado mato-grossense na região. Estivemos na cidade de Bonito. E a partir dessa experiencia, fomos pesquisar sobre como é o Cerrado.

Dentre os ambientes do planeta (há 70 milhões de anos houve a extinção de vida no planeta), encontramos o cerrado, uma    das vegetações mais antigas do planeta.  O solo do Cerrado, diferente de outras terras, é carente de nutrientes, um solo pobre, com rochas de calcário. Os moradores da região contam que, nos últimos cinco anos (5), a natureza do Cerrado vem passando por serias mudanças. A mata foi substituída pelo cultivo dos grãos de milho (transgênicos). Essa produção é para exportação e fabricação de ração animal. Fazendas que podem variar suas dimensões de 50 a 3 mil hectares ou mais.

Como controlar os desflorestamentos das matas naturais do Cerrado para darem lugar a campos e milho e soja? De forma assustadora a monocultura de grãos vai desertificando o Cerrado.

As plantas nativas do Cerrado são de crescimento lento. Os animais que vivem nesse habitat são catalogados como específicos da região e, nesse momento, se encontram em fase de extinção.

 Vale esclarecer que algumas sementes de arvores nativas do Cerrado servem de alimento para alguns desses animais como o lobo do mato e outros. Tais sementes necessitam ser metabolizadas nos estômagos desses animais e, depois de defecadas, diminui-se a multiplicidade das vegetações. Outra dificuldade é o fato de as araras azuis e vermelhas quando veem ao cerrado para o acasalamento não encontram ninhos e arvores. As nascentes do Rio Sucuri e o Rio Formosos, principal rio da cidade de Bonito com 100 km de extensão, correm risco ambientais. Por isso a população desenvolveu um projeto que visa contribuir de maneira efetiva para a conservação da bacia hidrográfica do Rio Formoso que, há anos, sofre com as erosões e os assoreamentos provocados pelo desmatamento do cerrado e desvios do leito natural. A cada ano, por secarem, dez pequenos rios e córregos do Cerrado desaparecem nessa região. Podemos comparar o Cerrado é uma versão invertida da Floresta Amazônia, que é jovem e só tem 3 mil anos. A vida no Cerrado é subterrânea, nas águas dos lençóis freáticos, mas é o despoluente do planeta. Estudos mostram que a recuperação da Mata Atlântica (7 mil anos), ainda é viável por ser ela nova, mas no caso do Cerrado, sua restauração é improvável.

A proposta é recuperar as florestas ciliares e proteger as reservas legais. A sociedade de Bonito se encontra sensibilizada e reconhece que a economia de Bonito é oriunda do turismo local e não o plantio exacerbado de grãos. A união na luta para a preservação das espécies da flora fauna e das nascentes de Bonito se dá na parceria entre as ONGs como a Fundação Neotrópica do Brasil[xxv] (FNB), o Ibama, a Polícia Federal, o Estado e a população. A conservação da bacia hidrográfica é fundamental porque dessa nascente jorram os lençóis freáticos subterrâneos que emergem de uma parede de pedras, eles jorram 1800 litros por hora que correm o risco de secarem em função dos assoreamentos clandestinos e indevidos das matas ciliares[xxvi]. Alguns trabalhos de recuperação do cerrado estão acontecendo, e a empresa paulista, fundação o boticário, incentiva o cultivo de arvores do cerrado para replantio local em área a ser preservada

Ainda em Bonito, buscamos por saber se a atividade da agropecuária local estava dentro das normas e do cumprimento suas leis ambientais. Só que não! São preocupações a poluição ambiental produzida pelos gases com efeito estufa,  provenientes de resíduos, como o esterco produzido em sistemas de produção intensiva de animais domésticos para fins comerciais (bovinos de corte, bovinos de leite, suínos e aves), resíduos agrícolas, ou o lixo urbano e o esgoto doméstico que são fontes poluidoras devido ao seu alto potencial de gases poluente. Uma opção de energia boa para o reaproveitamento desses gases e a geração de energia a partir da digestão anaeróbia (biodigestão). Essa é uma forma de aproveitamento e solução para possíveis impactos ao meio ambiente. Diferente da criação do gado solto no pasto onde os animais circulam por extensa área defecando de maneira dispersa no ambiente e permitindo a completa decomposição desse material potencialmente poluente.

 

A políticas públicas, sua participação, uso e divulgação de energias renováveis

 

Outro momento no qual a ecologia é socioeconomicamente participativa são as fontes de energia renováveis, fontes alternativas diferentes às tradicionais, (como o petróleo e o carvão altamente poluentes e esgotáveis), essas são perenes e causam pouco ou nenhum impacto ao meio ambiente.

Portanto, um manejo sanitário adequado ecológica e economicamente dos resíduos é uma necessidade a ser imposta legalmente porque os resíduos podem contaminar as águas e, consequentemente, os animais e o homem. Ecológico, porque os resíduos, ricos em matéria orgânica e nutrientes, como vimos, causam poluição e desequilíbrio no meio ambiente. E por fim, econômica, porque o tratamento dos resíduos envolve recursos de equipamentos, de material e de mão de obra, que oneram o sistema produtivo e podem até mesmo inviabilizá-lo (Hardoim e Gonçalves 2003). Privilegia discussões sobre o meio ambiente, arte, educação e a consciência.

Nesse sentido, como nova opção agrícola, houve o incentivo para que os pequenos agricultores buscassem ajuda financeira para os seus investimentos e, consequentemente, também houve um crescimento da produção agrícola orgânica vegetal e animal baseada nos quatro princípios: Saúde, Ecologia, Justiça e Precaução, enquadradas no nível europeu e na legislação especifica[xxvii]. Especificamente para nossa pesquisa, é importante salientar que esse modelo de cultivo e produção agrícola biológica que defende o descanso da terra, do solo, (o descanso sabático do solo) e o não uso dos agrotóxicos DDT tem melhor qualidade de sementes, entretanto, o preço final do produto é inviável para compra e para o consumo de uma população de classe baixa ou média.[xxviii].

 

CONSIDERAÇOES GERAIS

 

O livro de Gêneses descreve a existência humana e a sua histórica da criação, queda e sua redenção. Segundo a tradição judaico cristã, em um primeiro momento Deus organizou o caos que imperava no cosmos e depois criou o ser humano a quem deu a responsabilidade de cuidar do planeta. Essa existência humana está descrita em três esferas; o ser humano e seu criador, o ser humano com o próximo e o ser humano com a terra.  Infelizmente houve, por causa do pecado, uma quebra na harmonia entre essas esferas, entre o Criador, a humanidade e toda a criação, porque o homem não reconheceu a magnitude do Criador.  Além disso, interpretou-se de forma distorcida a natureza do mandato de dominar e sujeitar a terra (Gn 1, 28). Como resultado, a relação originariamente harmoniosa entre o ser humano e a natureza transformou-se num conflito (Gn 3, 17-19). Passados milênios, o ser humano mergulha o Planeta o caos. Uma volta ao passado.

A ação do ser humano na natureza tem sido avassaladora. Nenhuma outra espécie tinha ameaçado a existência, levando a extinção de tantos outros seres vivos como os humanos. A ganância e o egoísmo humano, têm dominando de maneira inadequada o planeta.  Todavia, a vida na terra é sustentada pela própria natureza. Felizmente, mesmo diante de tantas catástrofes ambientais a natureza retoma seu equilíbrio inicial através de mecanismos naturais de autopreservação. É da biodiversidade planetária que o sustento da vida e a sobrevivência acontecem, mas, para alguns, a perda da biodiversidade não é vista como um problema.

Pesquisadores apontam para os serviços invisíveis prestados pela natureza que ocorrem espontaneamente nos ecossistemas sem que percebamos.  É o que ocorre com a polinização, um desses fenômenos invisíveis da natureza que é realizado pelas borboletas, abelhas e pássaros. Esses animaizinhos minúsculos carregam o pólen para longas distancias, cooperando assim para a reprodução e preservação das espécies e flora. Na Europa, a diminuição do número de abelhas já tem impactado a polinização

Outro exemplo de como a natureza vem se regenerando é o crescimento espontâneo sem a interferência humana de árvores frutíferas nativas das florestas como o palmito, coco, guaraná, açaí, banana e outras frutas tropicais. Nesses ecossistemas o controle de pragas é exercido naturalmente pela cadeia de consumidores, besouros e bactérias e vale citar fenômeno da compostagem que fertiliza o solo naturalmente a partir da decomposição dos materiais orgânicos, madeiras e folhas das arvores ou mesmo as carcaças dos de animais mortos. Toda matéria orgânica torna-se um excelente fertilizante. Fenômeno semelhante é a crescente fértil dos rios na época da cheia e das chuvas, quando as lamas e depósitos fossilizados do leito do rio emergem para as superfícies que produzem os húmus que preparam a terra ideal para o plantio de grãos. Portanto, proteger recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres e gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e rever a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade é uma das metas da Agenda 2030 (Objetivo 15 da ODS). Para a Agenda 2030 pensar em promover o desenvolvimento sustentável é um dos fatores primordiais. O mesmo ocorre em relação ao controle das desigualdades e as injustiças e o fortalecimento da defesa dos direitos universais e indivisíveis.

Discernir os tempos tornou-se nosso ponto de máxima porque estamos vivendo o momento escatológico da profecia. Como exemplo, citamos o cumprimento escatológico do momento histórico:  O Tempo de restauração de todas as coisas. Portanto, devemos ler os sinais dos tempos e entender como a nossa participação efetiva pode ajudar nas transformações planetárias.

As reflexões teológicas apresentadas abordaram as ações da humanidade e a fé cristã que, consigo, traz novas motivações e exigências em face dos acontecimentos que ocorrem no nosso planeta, sendo imprescindível, portanto, consideramos o fato de que medidas e mudanças urgentes precisam acontecer.

 

Referências

 

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BRITO, Paulo Roberto, VIVEIROS Mazzoni Solange Cristina (Org.) Missão Integral Ecologia e Sociedade.  São Paulo: A Rocha Brasil, 2006.

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JONES, James. Jesus e a Terra. A Ética Ambiental nos Evangelhos. Viçosa M.G.: Ultimato, 2003.

MARINGOLI, Ângela. Teoambientologia: um desafio para a Educação Teológica. São Paulo: Ed. Recriar 2019.

PADILLA Carlos, Renné. O que é Missão Integral? Ensaios sobre a igreja e o Reino. Viçosa Ed. Ultimato. 2009. PADILLA Carlos, Renné.  Missão Integral: o Reino de Deus e a igreja. – Viçosa, MG: Editora  Ultimato, 2014.

PHILIPPI, Arlindo, Jr e PELICIONI, Focesi Maria Cecília. Educação Ambiental e Sustentabilidade. 2ª Edição, Barueri- São Paulo. Manole, 2014.

REIGOTA, Marcos. O que é Educação Ambiental? São Paulo: Brasiliense, 2009.

REGA, Stelio Lourenço. Educação Teológica Transformadora.  In Revendo Paradigmas para a formação teológica e ministerial. Londrina: Ed Descoberta, 2004.

STEUERNAGEL, Valdir Raul.  A serviço do Reino: um compêndio sobre missão integral da igreja. Belo Horizonte: Missão Editora,1992.

STOTT, John R. W. Os Cristãos e os Desafios Contemporâneos. Viçosa: Ultimato, 2014

 

WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1983.

SITES

http://www.pagina22.com.br/2015/07/06/como-as-religioes-veem-o-meio-ambiente/ acesso em 17/03/2016.

http://radioboanova.com.br/jornal-nova-era/meio-ambiente-e-doutrina-espirita/  acesso em 14/03/2016.

http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html acesso em 02/ 10/ 2017

 

Site Formoso Vivo: www.mp.ms.gov.br/formosovivo E-mail do projeto: formosovivo@mp.ms.gov.br Site da Fundação Neotrópica do Brasil: www.fundacaoneotropica.org.br  E-mail: neotropica@fundacaoneotropica.org.br

 

Dissertações e Teses

MARINGOLI, Ângela. Educação Teológica e Educação Ambiental: Há lugar nos espaços da Educação Teológica no Brasil para a Responsabilidade Ambiental Na Perspectiva da Missão \integral. São Bernardo do Campo UMESP 2016.


 

[i] Ângela Maringoli é Teóloga Mestre e Doutora em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, Química e Pós-Graduada em Bioquímica. Instituição de fomento -CAPES.

[ii] ODS - Objetivo de Desenvolvimento Sustentável.

[iii] RUNYON, Teodore, A NOVA CRIAÇÂO, A Teologia de João Wesley hoje. São Bernardo do Campo EDITEO, 2002, pg 28

 Pantanal [iv] um bioma que é conhecido por ter maior área úmida do mundo. É a maior planície alagada do planeta. Ocupa a área média de 150.355 km², segundo dados do IBGE, o que equivale a 1,76% do território brasileiro. Desta área, apenas 4,6% é protegida em razão das unidades de conservação. Seu relevo é formado por planícies de inundação, acompanhado de serras, morros e depressões rasas e possui uma imensa biodiversidade. É cortada por vários rios, todos da Bacia do Rio Paraguai.  Esse Bioma pertence ao Brasil Paraguai e Bolívia. Patrimônio da Unesco. https://iusnatura.com.br/queimadas-pantanal/acesso 14/03/2021.
The editor apologizes for not being able to resolve coding issues with notes 4 and 5 along with improper spacing of other endnotes.

[v] Biodiversidade abrange cerca de 2 mil espécies de plantas, 582 espécies de aves,41 espécies de anfíbios,113 espécies de répteis,132 espécies de mamíferos. https://iusnatura.com.br/queimadas-pantanal/acesso 14/03/2021.

 

[vi] http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html - visitado em 02 de outubro de 2017.

[vii] Papa Francisco-Carta Encíclica laudato Si sobre o cuidado da casa comum. Brasília Edições CNBB, 2015, pg. 16.

[viii]  O Panteísmo é uma religião que crê que Deus criou tudo e se faz presente em toda a sua criação

[ix] http://pagina22.com.br/2015/07/06/como-as-religioes-veem-o-meio-ambiente/ acesso em 20/012017

 

[x] A Rocha é uma organização cristã que trabalha com a conservação do ambiente, cujo nome em português reflete a sua primeira iniciativa, um centro de estudos em Portugal. A Rocha é atualmente uma família de projetos na Europa, Médio Oriente África, América do Norte e do Sul, Ásia e Oceania. Os projetos d’A Rocha são frequentemente transculturais e comunitários, focando-se na ciência e investigação, conservação prática e educação ambiental - at: http://www.arocha.org/int-pt/index.html#sthash.XP4VKBsi.dpuf

 

 

[xiii] O L’Abri é um centro de estudos que combina vida em comunidade, hospitalidade, oração e pensamento. Nossa missão é demonstrar a realidade de Deus e recuperar a riqueza da nossa humanidade, por meio de Jesus Cristo.in http://www.labri.org.br/ 17/02/2016

[xiv] http://ideiafiksa.blogspot.com.br/2006/12/ecologia-e-misso-integral.html in 17/02/2016.

[xv] Artigo Técnico, do trabalho de Wingate foi editado pela Revista Science em março 1968, pp 979-981.

[xvi] Artigo Tecnico em Saturday Review, 1967.

[xvii]  Richard Means, sociólogo. 

[xviii] Movimento espiritualista, reencarnacionista, teve início na década de 20 e está ligado aos estudos da Antroposofia- e do Gnosticismo. Estudo as eras pelas quais os planetas e o cosmos atravessam Cristo viveu na era de peixes, época de recrudescimento religiosos e pragmatismo religiosos.  Na era de aquários as teorias religiosas serão libertadoras. Fazem uso da hipnose regressivas para a liberação da mente.

[xix]  Panteísmo: para a qual não existe a expressão “a criação de Deus”, mas sim, “tudo é deus”

[xx] J. I. Packer Francis A. Schaeffer (1912-1984).

[xxi] Cristianismo, judaísmo, Hinduísmo, Islamismo

[xxii]  Objetivo 4 – Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. http://bit.ly/2030agenda visitado em 22 06 2017

[xxiii] Objetivo 2 - Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. http://bit.ly/2030agenda visitado em 22 06 2017

[xxiv]  Objetivo 3 - Assegurar uma vida saudável e promove o bem-estar para todos em todas as idades http://bit.ly/2030agenda visitado em 22 06 2017

[xxv] 1- Fomento à criação e apoio à gestão das Unidades de Conservação, públicas e privadas; 2) Recuperação de áreas degradadas e adequação de propriedades rurais no Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal; 3) Pesquisa científica sobre biodiversidade e conservação da natureza; 4) Educação da sociedade, comunicação e disseminação de boas práticas para a conservação da natureza e a sustentabilidade; 5) Estímulo ao desenvolvimento de políticas públicas ambientais; 6) Realização de eventos técnico científicos para a discussão e o desenvolvimento do turismo como promotor da conservação ambiental. http://www.fundacaoneotropica.org.br/downloads/livro_nascentes_das_aguas.pdf acesso em 25/08/2018

[xxvi] Matas ciliares as florestas que ocorrem nas margens dos rios e nascentes. As matas ciliares funcionam como um filtro, protegendo os rios e as nascentes da contaminação por agrotóxicos, adubos químicos, da erosão e do assoreamento por sedimentos que possam vir das áreas agrícolas e estradas. Elas também funcionam como corredores ecológicos, que interligam diferentes ambientes naturais. http://www.fundacaoneotropica.org.br/downloads/livro_nascentes_das_aguas.pdf acesso em 25/08/2018 Acesso em 25/08/2018

[xxvii] Jaime Manuel C. Ferreira, diretor da AgroBio, Associação Portuguesa de Agronegócios de Mercados de Rua, direccao@agrobio.pt

[xxviii] http://www.ij.fd.uc.pt/apresentacoes/20151009/20151 _jaime-ferreira.pdf